Quem não conhece as famosas críticas ao comportamento e tratamento dado ao candidato na prova de direção por parte de muitos examinadores de trânsito? Tem até páginas na internet, daquelas que disseminam reclamações e denúncias virais de alunos queixando-se dos avaliadores. A cara amarrada e o que os candidatos chamam de grosseria lideram a lista.

Examinador que chega e nem diz bom dia, examinador que fala em tom seco demais, imperativo, ameaçador, avaliadores que fumam dentro do carro durante o exame e que atendem ou falam ao celular. Mas a cara séria e de poucos amigos ganha!

Nesses sites bem fáceis de se achar no Google os alunos reclamam que os examinadores gritam com as pessoas, potencializando o nervosismo e induzindo ao erro. Não raro, há alunos que os acusam de interromper o movimento dos pedais ou mesmo segurar ou puxar o volante durante a prova.

É claro que muitos candidatos que reprovam no teste prático do Detran também tem aquela mania nacional de ficar de dedo em riste procurando culpados para a reprovação e podem ter certeza que o primeiro deles a ser acusado vai ser o examinador, depois o instrutor e a autoescola inteira.

Por outro lado, não se espera outra coisa de um examinador de trânsito que ao perceber que o aluno vai avançar um cruzamento, uma via preferencial sem os devidos cuidados ou perder o controle do carro, a não ser que estanque de alguma forma o movimento do veículo.

Há quem tente explicar o suposto excesso de austeridade de alguns examinadores à função que muitos exercem como policiais civis e ao fato de não estarem lá para arreganhar os dentes a ninguém, mas sim para avaliar como o futuro motorista vai dirigir nas ruas e como agirá com relação à segurança para evitar acidentes.

Interagindo diariamente com candidatos em processo de habilitação, que acumulam ou não muitas reprovações em provas práticas, percebo que muitos alunos costumam reconhecer as próprias falhas, o próprio nervosismo, outros não. Mas, continuam mencionando as práticas não muito polidas de alguns avaliadores e assim, vai-se criando e alimentando a fama de mau desses profissionais.

As reprovações como objeto discursivo indicam que só o fato de estarem sendo avaliados já faz com que muitos temam por antecedência a figura de autoridade do examinador de trânsito. Afinal, na visão dos candidatos, sair dali com a carteira de motorista ou não depende daquele homem ou daquela mulher que os está avaliando.

É natural que os examinandos fiquem nervosos e reprovem, em grande parte, por conta disso. Mas o que não é normal e nem aceitável é que os examinadores de trânsito e os Detrans não saibam lidar com essa perspectiva dos alunos e não percebam o estrago emocional que uma cara amarrada pode fazer a qualquer pessoa.

Assim como há pessoas e examinadores de cara amarrada, também há pessoas e examinadores que podem deixar o candidato mais tranquilo só de repetir as palavrinhas mágicas: bom dia, boa tarde, por favor ou um simples “me mostre como você vai dirigir no trânsito.”

Essa já é uma forma de fazer com que o aluno saiba que a aprovação ou reprovação na prova prática vai depender do modo como ele mesmo dirige e que o avaliador não é nenhum carrasco como muitos candidatos pensam.

O artigo 27 da Resolução 168/2004 revela a preocupação com a conduta adequada e o tratamento respeitoso aos candidatos, tanto que em seu §1º considera infrações dos examinadores induzir o candidato a erro quanto às regras de circulação e conduta, faltar com o devido respeito e praticar atos de improbidade. As punições vão desde a advertência por escrito, suspensão das atividades por até 30 dias e até o cancelamento da designação.

Sendo o Detran o órgão máximo executivo de trânsito nos Estados e que também fiscaliza ou deveria fiscalizar a prática dos avaliadores, também é fato que por lá as autoridades conhecem muito bem essa “fama de mau” de muitos avaliadores. Mas a questão é: o que estão fazendo, recomendando ou mesmo investindo na formação dos examinadores de trânsito além de instalar câmeras de monitoramento de áudio e vídeo nos carros?

Será que os Detrans de cada estado estão se preocupando em averiguar ou, pelo menos, levar a sério essas queixas dos candidatos? Longe de estigmatizar toda uma categoria profissional, será que isso implica, de alguma forma, para as reprovações?