terça-feira, 4 de junho de 2013

POR QUE SE ABUSA TANTO DA VELOCIDADE?

Essa é uma pergunta que se vem fazendo não é de hoje e vem acompanhada de outra: o que fazer para que os motoristas corram menos no trânsito?

O que não faltam são estudos na área de Psicologia do Trânsito, grande parte associados à personalidade, que tentam explicar o comportamento dos pés de chumbo. Dentre as explicações clássicas, o prazer de acelerar para se autoafirmar, obter satisfação, prazer ou bem-estar em dominar a máquina.

Há ainda os estudos que mencionam a necessidade de compensação de sentimentos de inferioridade ao pisar pesado. Alguns, ao se julgarem melhores motoristas que os outros, em rompantes de grandeza, se julgam superiores e habilidosos a tal ponto em que praticam uma direção agressiva como forma de dizer: “olhem como eu sou bom”, “olha o que sei fazer com o carro”, “olha como eu controlo a máquina!”.

Só que não controlam os outros fatores que não dependem deles: não controlam o comportamento dos outros, não controlam a geometria das vias, o traçado das curvas, a inexperiência do outro, não controlam as falhas mecânicas e, no final, não controlam nem a si mesmos e acabam se envolvendo em acidente. Só que em acidentes em alta velocidade não se perde só os dentes, mas a vida. A própria vida e a dos outros!

Por conta de uma percepção individualista e egoísta de um espaço que é compartilhado (o trânsito), muitos motoristas colam na traseira do outro, buzinam, xingam, dão sinal de luz para pressionar o outro a andar mais rápido ou sair da frente.

É esse egoísmo que faz muitos motoristas odiarem alunos de autoescola que estão aprendendo a andar na velocidade da via; a terem raiva de quem deixa o carro morrer na saída de um cruzamento; a desrespeitarem os outros no trânsito como se fossem os únicos donos da rua. É por conta dessa visão individualista do trânsito que muitos motoristas se acham no direito de fazer as próprias leis e as próprias regras.

Simplificando a Teoria de Wilde, há os que arrotam experiência e habilidade dizendo que dirigem desde criança e que por isso, tem controle total sobre o carro. Autoconfiantes em excesso, passam a acreditar que nunca vão se envolver em acidentes, dando a si mesmos garantias e imunizações contra o risco. O que esses motoristas deveriam saber é que quando eles ainda estavam nas fraldas brincando com carrinho de brinquedo, aquele motorista com o dobro de anos de carteira e experiência que eles, também pensava e agia assim, até o dia em que matou, morreu ou feriu a si mesmo e a outras pessoas porque dirigia em alta velocidade.

Também há aqueles que estabelecem os próprios limites de velocidade por que acreditam que o maior risco da velocidade é não ter controle sobre o carro, e como eles acham que tem o controle total da situação mesmo com o ponteiro e o pedal no limite, não se sentem infratores nem expostos a riscos. Afinal, se há controle não há riscos!

E assim, quem abusa da velocidade vai fazendo as próprias leis, confia demais em si mesmo, na tecnologia dos carros, inventa os próprios discursos e tenta desqualificar as leis, os limites de velocidade, a fiscalização e os outros motoristas.

O que fazer para que os motoristas corram menos no trânsito? Engenharia, prevenção e fiscalização. E prevenção também se faz com campanhas educativas sérias que não excluam a população. Fala-se muito em educação para o trânsito nas escolas e isso é importante, mas não é tudo, é apenas uma das estratégias enquanto fora do muro das escolas quem continua pisando fundo são os adultos que aceleram demais.

Se correr demais no trânsito é um comportamento gerado por emoções, então que se use uma linguagem emocional à altura para dar estímulos que levem à mudança de comportamento. Exemplos disso são as campanhas da TAC Vitória, na Austrália, e Safety Road, no Reino Unido, que conseguem anualmente baixar os índices de acidentes em seus países.

Mas, aqui no Brasil, isso passa pela substituição das campanhas água com açúcar para se ter mais impacto, em orientar a mídia para não apelar tanto para a emoção da velocidade e se iniciar uma parceria com os psicólogos peritos do trânsito, que são os estudiosos do comportamento humano e podem orientar em campanhas educativas com a abordagem adequada.

Parafraseando como bem diz a jornalista e colunista, Mariana Czerwonka, os 3E´s: Engenharia, Esforço Legal e Educação. Se um destes pilares não estiver funcionando direito, a tendência é de que as coisas fiquem bem piores. E aí, vamos aliviar o pé?

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